O significado da verbalização do meu nome você confere abaixo:

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Carta de óbito, por fernanda

Não quero ficar na geladeira do necrotério. Quero que me deixem em casa até a hora do funeral. Por favor, alguém pode ficar sentado comigo para o caso de eu me sentir sozinha? Prometo não assustar ninguém.
Quero ser enterrada com um vestido de borboletas, Também quero usar a pulseira de quando era bebê. Não me maquie. Maquiagem fica ridículo em gente morta.
Eu NÃO quero ser cremada. Cremar polui a atmosfera com dioxinas, ácido hidroclorídrico, ácido hidrofluórico, dióxido de enxofre e dióxido de carbono. Além do mais, os crematórios têm aquelas cortinas horrorosas.
Quero um caixão de salgueiro biodegradável e quero ser enterrada em um cemitério-parque.. Quero uma árvore plantada em cima ou perto do meu túmulo. Gostaria que fosse um ipê, como aquele da nossa rua da morada. Quero uma placa de madeira com meu nome. Quero plantas e flores silvestres crescendo em cima do meu túmulo.
Quero que a cerimônia seja simples. Não quero ninguém que não me conhece dizendo nada sobre mim. Quero que as pessoas que eu amo se levantem e falem sobre mim, e mesmo se vocês chorarem, não tem problema. Quero que digam coisas sinceras. Se quiserem, podem dizer que eu era um monstro, dizer como eu dei trabalho a vocês todos. Se conseguirem pensar em alguma coisa legal para dizer, digam também! Escrevam primeiro, porque parece que nos funerais as pessoas muitas vezes se esquecem do que queriam dizer.
Não leiam, sob hipótese nenhuma, aquele poema do Auden. Se ouvirem esse poema de novo, as pessoas podem morrer de tédio (ha, ha), e além disso é triste demais. Peçam para alguém ler o Soneto 12, de Shakespeare. Toquem minhas músicas prediletas, nada muito rock and roll ou agitado, quero serenidade neste momento. O piano de my heart Will go on me lembraria você, mãe.
Quando já tiver passado alguns dias, fique de olho para ver se eu apareço. Talvez eu escreva na condensação do espelho quando você estiver no banho, ou brinque com as folhas da macieira quando estiver no jardim. Talvez eu entre em algum sonho seu.
Vá visitar meu túmulo quando puder, mas não fique se martirizando se não puder ir, ou se mudar de casa e de repente o cemitério ficar longe demais. Lá é lindo no verão (dê uma olhada no site). Pode levar comida para um piquenique e ficar sentado comigo um pouquinho. Eu gostaria disso.
É isso. Amei vocês e continuo.
Sou estranha mesmo, eu sei.

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